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Crítica: Diários de Andy Warhol – ★★☆☆☆ (2022)

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“Diários de Andy Warhol” é a nova série documental que saiu na Netflix. Tendo Ryan Murphy como um dos produtores, a série descreve acontecimentos do diário de Warhol enquanto amigos próximos e conhecidos são entrevistados. Adaptado do livro de mesmo nome da Pat Hackett, dividido em seis episódios e dirigido e escrito por Andrew Rossi, a série mostra a ascensão de Warhol no mundo das artes até sua morte trágica em 1987.

Como série documental, ela faz um ótimo trabalho em contar a história com imagens, arquivos de vídeos e áudios. Todo acervo histórico existente contribui muito para a narrativa que a série busca contar sobre a vida de Andy. Ver as intimidades e segredos de alguém que por si só era um objeto de estudo para os fãs, é algo extremamente satisfatório.

Ainda que seja um diário pessoal, o narrador nunca é cem por cento confiante, além das alterações da própria escritora, que transcrevia as ligações de Warhol a pedido dele. É nas entrevistas, feitas por pessoas próximas, que existe uma visão íntima do personagem, suas dores e seus romances. Entre lágrimas, sorrisos e saudades, defeitos e fraquezas de Warhol são revelados.

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Nas constantes abordagens que se tem na vida de Warhol, existem alguns momentos encenados por Brian Kelly como Warhol e são momentos intimistas e ficcionais, que são descritos pela voz do próprio Warhol, o que é um dos alvos de polêmica já que ela foi recriada a partir de um software. São nesses momentos que o documentário tenta desvelar a persona de uma pessoa que nunca se revelou para os outros como realmente é. Sempre com desfoque no rosto de Brian, ainda sim a caracterização é incrivelmente potente para que acreditemos que é o Warhol em tela.

As passagens da vida dele são refeitas cronologicamente. Acompanhamos Warhol ainda como Andrew Warhola, um garoto gay e católico, com seu amor à arte, indo pra Nova York e se tornando Andy Warhol. Considerado o rei da Pop Art, um dos diretores mais provocativos da sua década e uma das figuras mais influentes no mundo da arte e no mínimo interessante mesmo para quem não o conhece. Mas é na The Factory que sua vida iria mudar.

Os diários só existem pelo atentado à sua vida na The Factory. Baleado e inclusive chegando sem vida às mesas de operação, Andy Warhol iria se tornar cada vez mais uma figura excêntrica, começando a escrever o diário que deu origem a série. Nele vemos seu constante medo de se tornar ultrapassado,  sua falta de auto estima com a própria imagem física, sua inveja dos próprios colegas e amigos. Por mais que haja um culto da personalidade na série em si, existem também alguns apontamentos de suas falhas morais.

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Entretanto, mesmo pela quantidade de conteúdos que a série se propõe a documentar, existe uma falta de ritmo muito óbvia. Se de um lado temos a vida desvelada de Warhol, por outro a série tem muitos momentos insignificantes, seja pela narrativa da vida do Warhol, ou por abordar por longos minutos coisas que nem sequer interessam. São seis horas e trinta e cinco minutos que passam como se pesasse o dobro. Parece que eles tinham material de sobra e queriam simplesmente usar pra que nada fosse desperdiçado.

Outro ponto é o culto a Andy, muito das problemáticas que o filme aborda sobre ele, são rapidamente reveladas e logo em seguida descartadas, exploram somente o lado mais trágico e pessoal de Warhol, mas nunca seus preconceitos. Se existe interesse em abordar as falhas de Warhol, elas quase nunca se fazem presentes, e quando tem, os próprios entrevistados nunca parecem interessados em discutir. Em uma série que busca humanizar uma pessoa que viveu de um personagem, ela prefere pular as fragilidade para que se possa ver seus grandes feitos.

Um ponto polêmico é a reprodução da voz de Warhol. Mesmo com um aviso prévio avisando que a voz não é de Warhol e sim de uma reprodução, ao qual tem uma breve contribuição de Bill Irwin, abre um questionamento ético sobre como um software desse pode ser trabalhado em outras mídias e até mesmo notícias. Inclusive agem por um falso pretexto de uma frase solta de Warhol para recriar sua voz, uma vez que Warhol disse que queria ser um robô, porém tal argumento é ambíguo demais para tal uso de tecnologia em uma pessoa que já está morta.

“Diários de Andy Warhol” é uma série que está cheia de detalhes sobre Warhol, com uma qualidade técnica acima das demais séries documentais que costumamos ver, mas que infelizmente tem uma grande carência de ritmo, e falha em explorar pontos delicados, principalmente sobre as falhas morais mais pesadas de Andy. É uma série que nos diz muito sobre a vida pessoal de Warhol, mas que se afunda em excessos e tem medo de manchar o culto a personalidade de Warhol com seus defeitos. 

 

Sobre Matheus Henrique

Amante do cinema, jogos e literatura, buscando estudar e aprender sobre o que ama e assim trilhar o caminho de crítico. Escrevo algumas coisas no Letterboxd e Instagram de vez em nunca. Letterboxd: https://letterboxd.com/Matatheusx/

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