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Análise: Mortal Shell – ★★★☆☆ (2020)

Mortal Shell, o game RPG souls like lançado em 2020 pela Cold Symmetry bebe na fonte dos clássicos inesquecíveis do gênero como Dark Souls e Bloodborne e proporciona uma experiência visual interessante, além da satisfatória sensação de fatiar inimigos demoníacos e sobrenaturais com sua pesada espada de quase dois metros. Alguns elementos não tão inéditos são repaginados para o universo do jogo, compondo um conjunto coeso de habilidades. A característica de não existir um enredo com começo, meio e fim e sim o universo ir se construindo através dos elementos visuais como ambientes, aparência dos personagens e trilha sonora aguçou minha curiosidade e me prendeu mais do que qualquer outra coisa ao jogo. 

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Como citado, não existem habilidades ou poderes inovadores em Mortal Shell, mas as habilidades existentes compõem a identidade de seu personagem, ou melhor, seus quatro personagens. Existem quatro “carcaças” que você pode habitar durante a gameplay, cada uma delas com atributos de resistência, força e vigor diferentes, além de árvores de habilidades diferentes. Caso sua vida chegue ao fim, você será arremessado fora de sua carcaça e deverá retornar a ela rapidamente para ter mais uma vida antes de morrer definitivamente. Se receber um golpe enquanto está fora da carcaça e habitando sua frágil forma original, você já era.

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E, claro, a habilidade mais importante que temos é de ‘petrificar’ nosso personagem a qualquer momento e então nenhum golpe lhe causará dano. A habilidade também é útil para acertar o timing no meio de um golpe que foi dado precipitadamente, por exemplo, uma vez que saber a hora certa de avançar com sua espada é essencial para aproveitar as brechas dos inimigos. Um tempo de cool down deve ser esperado até que se possa petrificar novamente.

A exploração é fundamental para encontrar outros elementos do jogo, além de apreciar as paisagens dantescas, infernais e surreais. Na minha experiência com o game, percebi que os elementos gráficos eram o que compunham a história misteriosa que se desenrola e me permiti ter a experiência sensorial mais abstraída de não procurar tanto sentido dentro das falas poéticas dos personagens medonhos. O visual dos inimigos também é muito interessante, e logo você é capaz de decorar cada tipo de ataque pela aparência deles. Infelizmente, as IA’s são muito limitadas e não representam um desafio tão interessante, ficando rapidamente repetitivo e cansativo ter que passar por tantos inimigos até alcançar seu objetivo.

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Um longo percurso deve ser percorrido até que o próximo check point seja alcançado e se caso você morra antes disso, todos os inimigos derrotados também voltarão à vida (ou pós vida). É muito frustrante que cada checkpoint esteja tão longe do anterior e sem localização exata, uma vez que não existe mapa é fácil se perder. Ter de passar por todos os inimigos novamente também é desanimador visto que cada luta é muito cadenciada e deve ser feita com calma, sem precipitação, como uma dança entre criaturas sobrenaturais. E, claro, você deve estar sempre atento onde pisa pois pode rolar subitamente rumo a uma queda mortal a qualquer momento.

Os elementos que você coleta pelo mapa não poderiam ser mais vis e grotescos: ratos assados, cogumelos mofados, e uma curiosa viola que você pode se sentar para tocar a qualquer momento. Cada um deles proporcionam breves e úteis vantagens em lutas que por acaso estejam difíceis. É possível também mudar de espadas, cada uma com seus atributos diferentes, assim como as carcaças. Infelizmente, as coletas que permitem que você troque de carcaça e de espada são consumidas e você tem apenas uma chance de troca, tendo que encontrar outra coleta semelhante para novamente variar entre as armas disponíveis. 

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Acredito que Mortal Shell não é um jogo que irá agradar a qualquer um pelas dificuldades citadas que fazem do jogo uma experiência arrastada e complexa. Esses pontos negativos talvez nem possam ser considerados como tal porque são propositais e contribuem para a sensação de que cada tentativa deve ser executada com o máximo de precisão possível. Mas não deixa de ser uma experiência interessante para quem é fã dos “souls like” games. Quem tiver a percepção mais apurada conseguirá encontrar também referências artísticas e filosóficas que fazem do jogo uma sofisticada viagem ao universo tão peculiar e sobrenatural.

Sobre Emerson Dutra

Um psicólogo que tem o mundo nerd como seu guarda roupa para atravessar para uma Nárnia que é mais divertida, interessante e justa que nossa realidade compartilhada.

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